"O Governo tem de ter a serenidade de ouvir, a serenidade de partilhar e a serenidade de decidir. A serenidade de ouvir, a serenidade de dialogar, a serenidade de tomar uma decisão. Foi essa serenidade que a maioria teve hoje".
Miguel Relvas aos jornalistas, no fim do debate de hoje na AR sobre o OE2012.
Deixa ver se percebemos bem: a ministra Assunção Cristas, do "partido dos contribuintes", quer instalar portagens urbanas, ao mesmo tempo que o governo de que faz parte aumenta o preço dos transportes, restringe os passes sociais, suprime carreiras e limita linhas de metro. E "acha" que o caminho não é a aposta nas renováveis - que é só uma das apostas sectoriais mais bem sucedidas em Portugal e com mais futuro ambiental e económico, como todos os dados e todas as avaliações e organizações internacionais reconhecem; o que é preciso é "mais eficiência energética". Quem sabe se à custa de mais gravatas, ou de outras medidas estruturantes não especificadas.
O Álvaro está bem acompanhado: embora goze de um justo protagonismo, não é o único super-ministro deste super-governo.
"Somos um clube de gente de bem, que sabe receber, que sabe estar. Ao contrário de outros, já não estamos na pré-história". Paulo Pereira Cristóvão, vice-presidente do Sporting.
A julgar pelo modo diligente e irresponsável como se dedicam a atear fogueiras, ninguém diria. Durante uma semana, os dirigentes de um clube da segunda circular seguiram o exemplo de Passos Coelho com a "agitação" nas ruas e inventaram uma "questão" em torno de um dispositivo de segurança que existe em inúmeros estádios europeus.
A "questão" terminou como as imagens documentam: um incêndio de dimensão apreciável no sector de um estádio de outro clube da segunda circular no sector ocupado pelos adeptos e pelos dirigentes que se recusaram a ficar na tribuna de honra. Sobre essa ocorrência, o mesmo dirigente (antigo membro de uma força de investigação criminal) disse que "não sabia de nada": "enquanto lá estive, não aconteceu nada". Como na pré-história, a informação circula devagar.
Os regulamentos talvez prevejam multas pesadas e a interdição do estádio de clubes cujos adeptos são responsáveis por este tipo de ocorrência. Energúmenos e selvagens há em todo o lado, o que não se espera é que sejam caucionados por quem tem responsabilidades. E ao contrário de Passos Coelho, que teve sorte com a brandura dos incidentes localizados na greve geral, os dirigentes do Sporting tiveram a mesma pouca sorte (e arte) da equipa dentro de campo. Que, pelo menos, sirva de lição.
Nem nos mosquitos. Ou a injustiça que é desvalorizar os detalhes.
Como outros murros no estômago recentes, para utilizar um conceito que se tornou emblemático do discurso político deste governo, nada de muito imprevisível. Será, talvez, o "choque com a realidade", na inesquecível expressão de Nuno Crato. E um passo mais na espiral que se auto-alimenta, pré-anunciada e tudo: "em 2012, serão necessárias mais medidas".
A Fitch elogia o governo mas, ao contrário do que Relvas e Passos antes das eleições, não é por haver "outro governo" que "as mesmas medidas" (as mesmas não, bem piores) conseguiriam "acalmar os mercados". Ou este governo não tem credibilidade, ou talvez não seja esse o problema. E enquanto continuamos todos entretidos, um destes dias deixará de ser possível proceder a mais desvalorizações do rating da república, dos bancos, de todos nós.
Assim que aterrou no palácio da Horta Seca, uma das primeiras decisões do Álvaro - certamente consternado com o "ambiente de ostentação" que disse ter encontrado - foi contratar nas páginas do Diário de Notícias uma super-assessora de imprensa, com um super-ordenado (o maior de entre os assessores de imprensa do governo), para ajudá-lo a desenvolver a estratégia de comunicação do sobredimensionado ministério.
Até aqui, e pese a contradição ostentatória, dar-se-ia o benefício da dúvida à concretização da super-tarefa.
A história começa a tornar-se interessante quando a imagem e a comunicação do titular da Economia é a que se conhece, fazendo do Álvaro a super-anedota deste governo - embora, e para sermos justos, o assessorado em nada ajude.
Como qualquer boa história que se preze, também esta pedia um final feliz e ele aí está: a super-assessora responsável pela excelente imagem comunicacional do Álvaro foi recompensada com uma super-promoção para o Turismo de Portugal. Com funções na área de imprensa ou comunicação, a especialidade que se lhe conhece? Não. Como administradora.
Parece que a Maria de Lurdes Vale ouro.
"Agora temos outro PREC - processo rápido de empobrecimento em curso"
Pacheco Pereira, 10 de Novembro de 2011
O salário mínimo - viver com quatrocentos e oitenta e cinco euros por mês - não é realmente baixo em Portugal
O secretário de estado do emprego do Álvaro.
Governo anuncia o fim da crise
O Álvaro, de manhã.
Governo diz que não anunciou o fim da crise
O Álvaro, à tarde.
Com as piruetas que este governo já nos ofereceu em apenas quatro meses, não há muito que nos possa surpreender, verdade? Bem, de quando em vez uma pessoa ainda fica de cara à banda. Não é que, por estes dias, me pareceu ver o nosso primeiro-ministro a aproveitar a cimeira ibero-americana para vender uns computadores magalhães aos mexicanos? Sim, estão a pensar bem, aqueles que não serviam para nada e mais não eram que uma criação da propaganda socrática. E não é que me pareceu ver também o ministro Portas de caixeiro-viajante em Caracas, não só a vender mais uns magalhães aos venezuelanos, como a fechar diversos negócios com a gente pouco recomendável do regime chavista, trocando galhardetes e cartões e desejando, em nome de Portugal, a rápida recuperação desse ditador terceiro-mundista, que só um desqualificado como Sócrates poderia conceber como parceiro credível dos interesses do país? Há quem diga que o dia das bruxas, sendo uma espécie de carnaval macabro, não deixa de ser um carnaval. Deve ser isso. Ou isso, ou há palavras no dicionário que mudaram de significado com o acordo ortográfico.
andré salgado
miguel cabrita
paula mascarenhas
correio.da.vida@gmail.com
vitor gaspar; schauble; conversa privada