O Tomás Vasques toca no nervo. Depois do circo do Freeport, depois dos canudos, casas e casinhas, da peregrina asfixia democrática, das inventonas de belém e da mais peregrina conspiração contra o estado de direito, a nossa direita doméstica encontrou a última chave para ir à caixa dos biscoitos: já não disfarça o desejo miudinho por estender a passadeira vermelha à entrada do FMI, tão breve quanto possível.
Então agora, que até lá está o Borges - como alguém disse, com a vénia devida, aquele senhor alemão que nada tem que ver com a política nacional - é juntar a fome à vontade de comer. O melhor dos mundos: descobria-se um padrasto severo para aplicar, por nós, a austeridade que nenhum governo de direita mostrou ter cojones [como diria o senhor Raposo] para impôr, arranjava-se o pretexto ideal para forçar eleições antecipadas [uma vez que até já cá estava o FMI, havia que clarificar, bem entendido] e responsabilizava-se o Sócrates por ter sido necessário chamar o lobo mau. O programa eleitoral perfeito, o país para depois, que a tropa ainda tinha que escolher a gravata e o gabinete.
Uma nota: as cabecitas monocromáticas querem fazer-nos crer que a instabilidade dos mercados internacionais reflecte apenas, ou principalmente, o que os preclaros andam a repetir desde 2005. Rezando e carpindo, que este Sócrates não é gente de confiança, e agora sim, atenderam-nos as preces e viram a luz. Não fora a comicidade da conta em que se têm e seria apenas trágico que, na exacta medida em que os tempos que vivemos se revelam mais difíceis e complexos, a capacidade de entendimento se conforme por mais exígua.
Há, no entanto, uma mensagem que é passada - e também lá para fora: à primeira oportunidade, vão provocar uma crise política, com eleições e novo governo, seja ele qual for, em plena execução do orçamento mais importante e exigente dos últimos 25 anos. Get it?
andré salgado
miguel cabrita
paula mascarenhas
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vitor gaspar; schauble; conversa privada