Recado a Alegre: percebeste agora?
Recado a Louçã: era o rastilho para o projecto alternativo da "verdadeira esquerda", não era?
Recado a Passos Coelho: com a estima que sabeis ter por vós, é uma pena não ter sido necessário o empurrão decisivo da máquina partidária.
Frase da noite:
"Os portugueses optaram por não mudar e pela estabilidade política"
A guardar e usar para memória futura
Nunca um líder socialista - e primeiro-ministro - terá dormido tão tranquilo com um aparente desaire eleitoral e nunca um líder da oposição terá ficado tão desconsolado com uma aparente vitória eleitoral.
"Estes 55%* de Cavaco valem tanto ou mais do que os 70% (?) de Soares. Cavaco teve um primeiro-ministro activamente contra si, ao contrário de Soares"
- Henrique Raposo, aqui.
Soares, saído de uma primeira eleição marcada a ferros pelo combate ideológico mais duro a que a democracia portuguesa assistiu, soube ter a inteligência e a intuição política para diluir os anti-corpos naturais à direita, quando a sua leitura do país assim o aconselhava. Fortaleceu a figura institucional a um nível nunca visto ou repetido em Portugal e reforçou a sua legitimidade para o exercício do segundo mandato. Um golpe de mestre em arte política. Cavaco, um político experiente mas com estofo curto e por vezes mesquinho, não o soube nem poderia saber fazer. Num contexto excepcional, e com a esquerda espartilhada ou desinteressada, não conseguiu alargar um milímetro da sua base de apoio e foi reeleito com menos votos e menor percentagem de votantes. Esta até o Rui Ramos lhe poderia explicar.
Quando Soares foi reeleito, o Raposo tinha 11 anos. Hoje não tem desculpa.
* na verdade, 52,9.
Já conhecíamos a aldeia dos irredutíveis gauleses, onde os seus castiços habitantes caçavam javalis, coleccionavam menires e resistiam às legiões romanas graças a uma milagrosa poção mágica.
Agora foi-nos dado a conhecer a aldeia do BPN, onde os seus não menos castiços habitantes celebram amizades de muitos anos, passam férias juntos e resistem à passagem de um tempo construído por ligações pessoais e políticas pouco transparentes e ainda menos recomendáveis, negócios com dinheiros de offshores e lucros fabulosos de operações realizadas com entidades fraudulentas.
Foi o dado mais interessante que saiu desta campanha. Para melhor conhecermos os nossos mitos. E para desmontar, pedra por pedra, uma certa ideia de uma idade de ouro.
1. Parafraseando o FJV, há aí uns fedelhos e fedelhas, na imprensa e não só, que durante meses a fio chapinharam alegremente na pocilga. Até ao dia em que a merda salpicou alguém muito lá de casa. Agora, pedem política, ideias, honra e seriedade. Não é muito, nem é pouco. É tarde.
2. Para quem faz questão de nos recordar - dia sim, dia sim - da importância vital dos seus conhecimentos de seriedade e economia, é no mínimo curioso que arrecade e leve para casa, em tempo recorde, uma mais-valia privada que nem com a dona branca e tenha achado a operação tão recomendável quanto a honorabilidade de nascer apenas uma vez.
3. Não deixa de ser verdade que todo este episódio teve o mérito de aproximar Cavaco dos portugueses. Todos vamos pagar, também, a sua mais-valia.
andré salgado
miguel cabrita
paula mascarenhas
correio.da.vida@gmail.com
vitor gaspar; schauble; conversa privada