Depois de solucionar a segurança social com o TGV, o plano é simples, porém espectacular:
Passos Coelho e Carlos Moedas tentam convencer Bruxelas a co-financiar um Programa Espacial português, prevendo a colonização parcial da Lua.
Passados seis meses, solicitam a Bruxelas, alegando razões de conveniência, que os fundos europeus destinados ao projecto sejam antes depositados na tesouraria nacional. Ali ao fundo, à direita, ao lado dos bifes do lombo.
Como é que ninguém se tinha lembrado disto, é o espanto que nos assombra.
e completamente acagaçada:
"A Passos Coelho exige-se agora que salve o país da bancarrota, que reestruture a administração e reduza a sua despesa, que não aumente impostos e ainda que coloque Portugal a crescer"
- Carlos Nunes Lopes, aqui.
Ainda que mal se pergunte, mas não foi com esse propósito que chumbou o PEC e provocou a queda do governo?
1. Ratings a descer e juros a subir em flecha. Diz que é por causa de uma tal de instabilidade política.
2. Os parceiros europeus da própria família política do PSD estão banzados.
3. Passos Coelho começou a escrever cartas em inglês a garantir que vai cumprir os compromissos assumidos pelo país. Ou seja, as medidas que chumbou como inaceitáveis e que o levaram a rasteirar o governo.
4. Apareceu em todo o lado um beto excitado, o Moedas, a dizer coisas alucinadas, sendo a mais brilhante a promessa de que bastaria os mercados começarem a incorporar as intenções do PSD para os ratings desatarem a subir.
5. Passos Coelho admitiu a necessidade de subir o IVA. Ou seja, e como certamente os Henriques Raposos não deixarão de assinalar, resolver as contas públicas pelo lado da despesa. E que é só o oposto do que defendeu, há poucos meses, como exigência para deixar passar o Orçamento do Estado.
6. Carrapatoso, o homem de Passos Coelho para a sociedade civil, veio dizer que havia lá margem para isso e falou antes em cortes no 13º mês.
7. O grupo parlamentar do PSD achou boa ideia suspender a avaliação dos professores, até porque estes são, como sabemos, uns bons 200 mil votos. Pacheco Pereira classificou a iniciativa do seu próprio grupo parlamentar como demagógica e populista.
E ainda só passaram 48 horas.
Sócrates era o quê, mesmo?
"Assim que os mercados incorporem a informação de que o PSD vai respeitar as metas do défice, e fará tudo o que for necessário para que se cumpram essas metas até porque foi o PSD que sempre anda atrás do Governo para cortar, essas agências voltarão a dar credibilidade a Portugal"
"Com as reformas que o PSD vai implementar, eu digo-lhe que ainda vão subir o 'rating', não sei se nos próximos 6 meses, se nos próximos 12 meses – ainda não se sabe quando haverá um novo Governo"
Carlos Moedas, dirigente do gabinete de estudos do PSD e um dos principais conselheiros de Passos Coelho.
E eu convencido de que "este" mercado já tinha sido esgotado pelo saudoso Nuno Fernandes Thomaz.
Isto vai ser um pagode.
"a direita não estava preparada para governar"
- António Pires de Lima, 2005
E seis anos depois? Uma depuração de 5-cinco-5 líderes, para se chegar à tríade Passos Coelho – Miguel Relvas – Marco Antonio.
Assustador? Bem, talvez haja um programa ou uma ideia para o país.
Na verdade, há alguma coisa: o pouco que conhecemos foi barro de tão má qualidade, que logo foi raspado da parede. O que ainda não conhecemos deve preocupar - e muito - os portugueses.
Uma coisa sabemos: no momento em que o euro e o projecto europeu tricotam a sua resistência, no momento menos aconselhável e mais crítico para Portugal nos últimos 25 anos, não resistiu à tentação de rasteirar o governo do país, comprometendo o próprio país à sua pressa em chegar ao poder.
Enfrenta agora um de dois caminhos curiosos pela frente:
Dando-se o caso de vencer as eleições precipitadas, será um exercício fascinante de ser visto, o de explicar aos portugueses a necessidade de medidas de austeridade idênticas ou - inevitavelmente - mais gravosas do que as que rejeitou e que serviram de pretexto para fazer cair o governo.
Dando-se o caso de perder as eleições precipitadas, bem pode enterrar-se com a areia que sobrou depois de ter enterrado o esforço dos portugueses.
Em qualquer dos casos, não vai ser bonito.
Recordar é viver:
"a direita não estava preparada para governar"
Acrescenta-se: nem os portugueses para isso.
"Um ano depois, se ainda estamos em situação de emergência é porque o Governo falhou"
"As medidas no dia em que deixam de ser justas passam a ser ilegítimas e não são aceites"
Passos Coelho, imaginando-se já primeiro-ministro, a explicar aos portugueses que a crise afinal ainda não passou ao fim de um ano. E a explicar as medidas necessárias para reduzir o défice em 2012 e 2013.
Provavelmente, com o dr. António Borges do FMI ao lado. Que vai falar a seguir.
"Chegámos ao fim. Isto não pode continuar. Esta peça de teatro acaba aqui"
- Pedro Passos Coelho, raciocionando que a crise extremamente difícil que o país atravessa é uma "peça de teatro" e que, como tal, tenciona lançar o país no caos político, económico e financeiro.
Na apresentação de um livro.
De propostas para um programa de governo, que alguém tem que pensá-las.
Por "gestores e empresários".
O PSD. Depois não digam que estavam distraídos.
“Tudo o que seja reforçar por parte do Governo que atingirá os objectivos de reduzir a dívida e de reduzir o défice é sempre positivo. Quanto às medidas, está a decorrer um Conselho Europeu importante hoje e, portanto, o PSD só assumirá e anunciará publicamente a sua posição depois desse Conselho Europeu”
- Miguel Relvas, 11 de Março de 2011
"O Governo tem de assumir que falhou nos seus objetivos de concretização orçamental e de execução orçamental. O Governo tem de assumir que estas medidas, que são medidas injustas, só resultam do fracasso das políticas que foram seguidas e, simultaneamente, esta necessidade de recorrer à ajuda externa é a demonstração clara de que as políticas e as propostas e a governação falharam"
- Miguel Relvas, 15 de Março de 2011
O Conselho Europeu correu bem a Portugal. As medidas anunciadas foram bem recebidas, decisivas e necessárias.
O PSD. Em 4 dias.
O povo esteve na rua, o tecido social está em convulsão e o país já fervilha com a mais recente novidade: um grupo de blogues uniu-se pela demissão do governo.
Segundo nos explica o porta-voz do movimento, Fernando Moreira de Sá, insuspeito militante social-democrata e assessor na câmara social-democrata da Maia, "esta ideia nasceu de conversas informais entre bloggers, pessoas de esquerda, de direita, sem partido e independentes, que consideram que este Governo deve sair".
Fomos então ver quem são esses bloggers, pessoas de esquerda, de direita, sem partido e independentes, que se uniram em torno de tão distinto e nobre objectivo. A descoberta foi uma grata revelação.
Pois temos, por exemplo, o blog de direita 31 da Armada. Pois temos, por exemplo, o blog de direita Blasfémias. Pois temos, por exemplo, o blog Delito de Opinião - cujos principais dinamizadores são de direita. Pois temos, por exemplo, o blog de direita - e albergue do passos-coelhismo - Albergue Espanhol. Pois temos, por exemplo, o blog de direita Nortadas. Pois temos, por exemplo, o blog de direita O Insurgente. Ah... e temos um blog "mais à esquerda" (risos), o Aventar, onde escreve... o próprio Fernando Moreira de Sá. Que faz de conta que faz de conta que não escreve também no Albergue Espanhol, para a coisa parecer mais plural e diversificada.
Temos, resumindo, a mesma rapaziada que desde 2005 escreve furiosamente nos blogues que já basta de lhes terem tirado o pote. Mas apresentando-se agora sob o eufemismo de "um movimento das redes sociais" para parecer algo de novo. Para uma boa aldrabice, não está mal esgalhado, não senhor.
andré salgado
miguel cabrita
paula mascarenhas
correio.da.vida@gmail.com
vitor gaspar; schauble; conversa privada