Com o episódio do cancelamento do simbólico prémio de mérito aos melhores alunos, convertido - já depois de atribuído e à revelia das escolas, dos pais e dos alunos premiados - numa doação forçada de solidariedade, o ministro Crato transformou um ensinamento moral que tem o direito, enquanto pai, a ditar em sua casa aos seus filhos, num ensinamento moral do Estado.
Uma curiosíssima ironia, vinda de um excelso representante de uma corrente intelectual muito na moda, que faz questão em abominar a excessiva intromissão do Estado no domínio particular da vida dos cidadãos.
Com uma pérola pedagógica: o que acabou de se ensinar aos miúdos, que se esforçaram, provaram o seu mérito e foram enganados, é que a palavra dada é muito relativa e quem corporiza a figura de autoridade e exemplo, pode, por capricho, mudar as regras a meio ou no fim do jogo.
Quando li a notícia de que os prémios de mérito para os melhores alunos do ensino secundário foram cancelados a poucos dias da sua entrega, e já depois de atribuídos, supus que se tratava da obsessão com as reduções de despesa, mais uma pequena parcela dos "custos intermédios" do Estado. Seria ridículo, mas é o espírito do tempo.
Mas não, afinal o dinheiro é para gastar na mesma. O que significa que o que está verdadeiramente em causa é suprimir um incentivo da escola pública ao mérito e à excelência - os tais que não eram suficientemente premiados pelo nosso sistema educativo.
Tudo isto, por si, seria estranho e, nas devidas proporções, grave. Mas o mais preocupante é que revela um padrão de actuação intelectual e politicamente muito pouco honesto, e não apenas em relação à tutela anterior.
O que há uns meses, na boca do actual ministro, era um "monstro burocrático centralizador" a abater ("implodir") a todo o custo em favor da "autonomia" das "comunidades escolares", mudados os titulares só revela mudanças para pior. Esqueçamos, até, as penosas referências negacionistas aos resultados nos estudos da OCDE. Afinal a actual equipa ministerial só complicou a vida aos professores e às escolas com um concurso de professores como há anos não se via - e, aliás, sem assumir as suas responsabilidades, preferindo tentar culpar os mesmos directores de escolas que noutros anos asseguraram processos quase sem mácula. Afinal, a avaliação de professores que era insuportavelmente burocrática deu lugar a um processo no essencial semelhante ao que estava desenhado. E, afinal, o discurso da insuficiência do estímulo ao mérito e à excelência deu lugar ao cancelamento a um prémio instituído precisamente e explicitamente para esse mesmo efeito, não por razões financeiras - só porque sim.
Nesta sucessão de episódios, só uma coisa em comum: a tentação, tão perigosa em política, da terra queimada. Mas fazer tábua rasa de tudo o que está feito, por puro capricho ou por incapacidade para reconhecer nos outros méritos, costuma dar mau resultado. Entretanto, o mérito e a excelência nas escolas, afinal, são mesmo um dano colateral - ou "custo intermédio", como se preferir.
Enquanto estuda o alargamento das razões para os despedimentos - indo mais longe que a troika, como assinalou o prof. Marcelo -, o governo apresenta-se ao serviço para combater o desemprego. Diz-nos o Álvaro que vai pedir (sic) às empresas que contratem desempregados há mais de seis meses para lhes dar formação. O programa do Estado contribui com 420 euros até seis meses e a empresa põe o remanescente, conforme acorde com o contratado.
O que não se diz é se os contratados poderão sê-lo pelo salário mínimo e qual a natureza do vínculo contratual a que a empresa fica obrigada. Traduzindo para português empresarial: no pior cenário, as empresas poderão usufruir por 6 meses de mão-de-obra barata experiência formativa a 65 euros por mês (a diferença para o salário mínimo) e depois "obrigadinho e boa sorte".
A medida, assim as empresas acedam ao "pedido" do Álvaro, pretende abranger 35 mil. Os desempregados há mais de seis meses são 460 mil.
diz que o pior ainda está para vir, diz o gaspar, 2012 será o princípio do fim das dificuldades, diz o passos, o pior ainda está para vir, diz o gaspar, com um novo modelo económico em 6 meses nada será como antes, diz o álvaro, o pior ainda está para vir, diz o gaspar, a incerteza internacional não ajuda, diz o moedas, o pior ainda está para vir, diz o gaspar, não são necessários discursos alarmistas, diz o relvas, o pior ainda está para vir, diz o gaspar
Fusão do IAPMEI com a AICEP (não prejudica), um embaixador itinerante para o globo terrestre (nada contra, mas vão matar o homem em dois meses. Sugere-se o Clooney) e os serviços secretos ao serviço das empresas portuguesas (até porque já têm a experiência, só faltando saber - há que ler o relatório - se com a ajuda da Optimus). Na pergunta de um milhão de dólares - quem fica com a tutela da AICEP - o colégio de sábios passou a batata quente (bruxo!, por isso é que são sábios), não chegando a um compromisso consensual sobre se deve ficar com o Álvaro ou com Portas.
Nota lateral e - espera-se - sem prejuízo da qualidade dos trabalhos: o extraordinário Nuno Fernandes Thomaz, que apareceu a balbuciar frase e meia na parte que lhe deram para o boneco nas televisões, é um sábio exactamente em quê?
É decisivo um crescimento económico de pelo menos 3 a 3,5% nos próximos dois, três anos. Se tal não acontecer não há pacotes de austeridade que valham
A recessão no próximo ano pode chegar aos 2,5%, mais forte do que se esperava. A nova previsão tem implícitas mais medidas de austeridade, que ainda não foram anunciadas
Lendo o líder parlamentar do PSD - tenho a convicção de que o PSD vai ganhar as eleições, e ouvindo Relvas - desejo que o PSD ganhe as eleições, percebe-se a farsa para nos comer por tolos. Ao contrário do que o spinning social-democrata se esforça por fazer passar, não só a pretensa dureza de Passos perante o escândalo na Madeira é uma brincadeira (diz que não passa por lá para fazer campanha, o que Jardim até lhe agradece), como o PSD nacional deseja e recomenda que a Madeira continue a ser governada pelo autor do gigantesco buraco e - possivelmente - da conduta criminosa.
O ministro das Finanças, confesso apreciador de Kafka, afirma lá fora que o pior da austeridade em Portugal ainda está para vir. Para consumo interno, o ministro da Propaganda interpreta e explica que não era bem isso que Gaspar queria dizer.
Costuma ser o primeiro sinal de um mau augúrio.
Foi hoje aprovada no parlamento a primeira lei Octávio Ribeiro. Depois de conduzirem investigações judiciais, os jornais tornaram-se, enfim, legisladores. Para memória futura.
"Ninguém quer acabar com a justa causa nos despedimentos"
O que se quer é transformar em justa causa o que hoje não o é, até se esticar o conceito a algo tão genérico como o livre arbítrio de quem despede.
Aos desmemoriados: queremos ir mais longe que a troika.
Remember?
andré salgado
miguel cabrita
paula mascarenhas
correio.da.vida@gmail.com
vitor gaspar; schauble; conversa privada