Foram dados passos significativos para "modernizar" a monarquia inglesa, se é que isto não é uma contradição de termos. Mudaram as regras da sucessão para permitir que as herdeiras mulheres estejam em pé de igualdade com os homens na linha de sucessão ao trono e não sejam subalternizadas como até agora (!). E, apesar de o acesso ao trono continuar a ser reservado a protestantes, os monarcas passam a poder casar com alguém católico, algo que não era permitido.
Como reconheceu o primeiro-ministro David Cameron, estas práticas discriminatórias eram injustificadas e anacrónicas, e já não podiam ter lugar nas sociedades modernas de hoje.
Agora, e em obediência aos mesmos princípios, fica a faltar a metade mais difícil (?) do caminho: a abolição da própria monarquia.
Na mouche: "A austeridade abrange toda a sociedade portuguesa".
Vitor Gaspar tem neste ponto toda a razão, e deve ter noção de que se prepara para ter ainda mais num futuro próximo. No entretanto, e talvez porque o ministro tem, aparentemente, andado distraído, a austeridade "abrangerá" todos, mas "abrange" muito mais uns do que outros.
A narrativa, também aqui, era simples: a falta de confiança era mais um dos problemas causados pelo anterior governo. Mudados os responsáveis, ganha a credibilidade perdida, tudo seria diferente. A começar pela própria confiança, dos mercados e das pessoas. Nos mercados internacionais, sabemos como evoluiu depois do chumbo do pec4 e das eleições. E, no plano interno, se aceitarmos a tese passista da ligação directa entre credibilidade e confiança, estamos conversados. Mas ou muito me engano ou está a caminho uma revisão (mais uma) da teoria: o problema afinal está nos mercados e nas pessoas, que "não percebem o que está a ser feito".
Uma velha praga da sociedade portuguesa, alimentada pelo ciclo do fechamento, privilégio e poder. Os maus hábitos são os mais difíceis de mudar.
Governo anuncia novo investimento em minas de ouro no Alentejo
O Plano é simples. Primeiro enterramos lá o ouro - presumo que o do Banco de Portugal - e depois extraímos. Chama-se a isto reinventar Portugal:
Ministro da Economia promete (e promete, e promete...) "reinventar" e "marcar" o país em seis meses.
Quatro já lá vão.
Em "solidariedade" com os seus colegas de governo, Aguiar Branco decidiu abdicar também do subsídio de alojamento "apesar de não ter casa própria em Lisboa" e de não pretender residir no forte de S. Julião da Barra - quem sabe a pensar já no pós-coelhismo, o que ao fim de poucos meses de governo não deixa de ser um sinal interessante.
Seja qual for a razão, ao fazê-lo erra duas vezes. O subsídio de alojamento faz sentido e é um direito que lhe assiste se reunir condições para o receber; abdicar porque sim depois de o ter recebido durante meses é um acto de populismo sem qualquer justificação. E, evidentemente, fragiliza ainda mais os membros do governo apanhados nesta curva. A não ser tenha sido (também) esse o objectivo. Se foi, este post é para ignorar.
Foi noticiado que membros do governo têm recebido subsídio de alojamento apesar de serem proprietários de casas em Lisboa. Um deles, o ministro Miguel Macedo que renunciou a esse subsídio "por vontade pessoal" e por "não querer perder um minuto da [sua] atenção com uma polémica deste género". E o Secretário de Estado José Cesário, que anunciou hoje também essa decisão. Em Portugal, a constante (auto-)flagelação populista "dos políticos" coexiste com um excesso de tolerância face a casos de evidente abuso das funções públicas e das benesses que estas proporcionam - e bem - aos seus titulares.
Percebe-se que Miguel Macedo não queira "perder nem um minuto" com isto. Aliás, nem era preciso que ele ou, em caso de omissão do próprio, o primeiro-ministro, perdessem muito mais. Talvez ele, e quem mais tenha recorrido a este esquema, não tenha infringido a letra da lei. Talvez, porque declarara(m) ter residência permanente em Braga. Mas uma coisa é clara: Macedo e Cesário escolheram tirar deliberadamente partido de uma formulação legal usando-a para um fim obviamente diverso daquele a que se destina. O que está errado não é o subsídio (e vários membros do governo recorrerem a ele), mas sim o uso que dele terá sido feito pelo menos nestes dois casos.
Quem é proprietário de uma casa que possa servir de residência permanente em Lisboa, não precisa de subsídio nenhum e não tem eticamente direito a ele, por não se tratar de um complemento salarial mas sim de um apoio com um fim preciso. A não ser que o dito imóvel seja inapropriado ou inabitável por alguma razão passível de ser demonstrada - coisa que, imagino, já teria sido invocada se fosse o caso.
Não há muitas voltas a dar. Ou quem embarcou neste tipo de estratagema se demite ou é demitido por quem de direito. Em rigor, a incapacidade dos próprios para reconhecerem o erro e que se trtou de um comportamento reprovável só reforça a inevitabilidade desta solução. E talvez não fosse má ideia devolver o dinheiro indevidamente recebido. Bem visto o que está em causa, para coisas tão simples um minuto chega e sobra.
andré salgado
miguel cabrita
paula mascarenhas
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vitor gaspar; schauble; conversa privada