Era fundamental para o PSD que o acordo com a troika fosse significativamente mais gravoso e penalizador para os portugueses do que os termos previstos no malogrado PEC IV. Nisso apostava as suas fichas, por três razões claras: permitia-lhe defender que o PEC IV não tinha passado de um paliativo insuficiente e pouco realista (mesmo que bem recebido pela CE e BCE); vestia a narrativa do "estado a que isto chegou"; e dava uma cobertura insuspeita para que o país comprasse uma agenda ideológica, que, de outra forma, sabia ter poucas condições políticas para sugerir. Ao ser apanhada de surpresa pelos resultados - bem diferentes do que esperava - da negociação entre o governo português e os parceiros da troika, a direita fica com três enormes sapos para digerir:
.O governo, afinal, sabia o que estava a fazer quando apresentou o PEC IV (o core business do acordo) e soube defendê-lo nas negociações. Passos Coelho, que o chumbou como inaceitável, vai agora assiná-lo, com outro nome e uns extras [oferta da São Caetano aos portugueses].
.É hoje cada vez mais claro aos portugueses a história e o preço de dois meses desperdiçados: a impreparação e a gula do PSD pelo poder.
.A agenda liberal terá que respirar por si própria. Se o PSD tiver coragem política para apresentá-la, por sua conta e risco.
andré salgado
miguel cabrita
paula mascarenhas
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vitor gaspar; schauble; conversa privada