"A minha interpretação da frase entre desvio e colossal, é que foram detectados desvios e que a consolidação orçamental nos vai exigir um trabalho colossal. Esta versão é da minha pura responsabilidade. Eu não tenho nenhuma informação autêntica sobre as palavras que terão sido proferidas entre desvio e colossal"
- Vítor Gaspar, a 14 de Julho, interpretando as palavras atribuídas a Passos Coelho no Conselho Nacional do PSD de 12 de Julho.
"O trabalho que o governo vai ter de fazer para recuperar o desvio que existe quanto às metas orçamentais que estavam previstas, é colossal"
- Passos Coelho, no vídeo divulgado a 22 de Julho, apresentado como tendo sido gravado no Conselho Nacional do PSD de 12 de Julho.
Do estranhíssimo vídeo de 33 segundos fornecido pelo PSD, em exclusivo, à televisão do Estado - no qual só se vê o primeiro-ministro, sem qualquer plano envolvente, a recitar milimetricamente as palavras exactas do enredo -, ficam dois dados muito curiosos:
Primeiro, a perplexidade de que as reuniões partidárias - à porta fechada - do Conselho Nacional do PSD são filmadas (a que propósito? com o assentimento dos conselheiros nacionais? cujas opiniões, proferidas para dentro do partido, entre pares, estarão a ser gravadas?).
Segundo, que a coincidência entre as palavras gravadas de Passos Coelho e a interpretação das mesmas por Vítor Gaspar, de conhecimento público muito anterior, é de tal forma milimétrica, que se torna mais verosímil identificar a colagem do discurso gravado à interpretação do ministro das finanças, do que reconhecer a esta última a capacidade adivinhatória sobre as palavras do primeiro-ministro, até porque - e aqui é que está o diabo nos detalhes - é Gaspar quem faz questão de referir não ter informação autêntica (i.e. conhecimento pessoal) do discurso de Passos Coelho.
Dito isto, das duas uma:
Ou o "desvio colossal" nunca existiu nas palavras do PM, e, trapalhadas à parte com o estranhíssimo vídeo, terão sido os estrategas da São Caetano a fabricar o soundbyte, passando-o à comunicação social, colocando-o na boca de Frasquilho e inscrevendo-o no relato oficial do jornal do PSD, para posteriormente, percebendo que se tinham espalhado ao comprido quando as instituições internacionais não acharam piada a que fosse colocada em xeque a competência dos seus técnicos, serem obrigados a corrigir a farsa - o que configura uma fraude política: fabricação de um falso "desvio colossal" nas contas públicas para acomodar a justificação de um novo imposto;
ou Passos Coelho aventurou-se mesmo pelo discurso do "desvio colossal" e ao ver-se obrigado, pela mesma ordem de razões, a corrigir a farsa, terá ensaiado uma primeira justificação criativa pela boca de um seu ministro, a ver se pegava, para depois "inventar" um vídeo a tresandar de suspeito para comprová-lo - o que configura uma fraude política muito mais grave.
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