Afinal, há "desvio colossal" ou não há "desvio colossal" nas contas públicas? Passos Coelho terá dito que sim, depois que não, ou mais ou menos. Vítor Gaspar disse que não, depois que sim, ou mais ou menos. E que desvio é esse, que não se encontra em lado nenhum - nem na execução orçamental, nem nos números do INE, nem nas contas dos técnicos da Troika, que passaram a situação financeira do país a pente fino? Dois mil milhões? Mil milhões? Dois mil milhões outra vez? Ou quem sabe, raíz quadrada de 7 milhões vezes Pi milhões? E sendo dois mil milhões (parece que é a versão definitiva e arrematada), como é que seria compensado com um imposto extraordinário que prevê uma receita de mil milhões? Que é para isso que foi criado e justificado, certo? Ou não era uma medida de precaução? Confusos? É compreensível. Mas não tanto quanto este governo de gente atabalhoada, assustada e impreparada.
O ministro das finanças, que parece ir inventando a narrativa à medida que vai sendo interrogado sobre o assunto, vem agora esclarecer que o "desvio" de dois mil milhões explica-se numa comparação virtual entre os objectivos estabelecidos com a Troika e o orçamento do Estado para 2011, aprovado em Novembro do ano passado.
Ora, se bem se percebe o exercício virtual, Vítor Gaspar ignora a deterioração das condições financeiras, a que Portugal também foi sujeito; ignora o chumbo das medidas do PEC IV - determinado pelos marmanjos que se sentam ao seu lado no conselho de ministros - e do subsequente acordo que Portugal teria obtido, a nível europeu, com a sua implementação; ignora o aumento brutal dos encargos com os juros da dívida soberana, como resultado da brincadeira; e ignora o acordo estabelecido com a Troika, que já prevê as medidas adequadas para atingir os objectivos propostos.
Desvio? Isto não vai acabar bem.
andré salgado
miguel cabrita
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vitor gaspar; schauble; conversa privada