Esta história lamentável tem passado razoavelmente despercebida em Portugal mas é bem um símbolo do tanto que tem estado e está tão errado com a Europa.
Além da extrema complexidade que crise das dívidas soberanas por si já encerra, a equação está inquinada por uma visão segmentada da Europa, centrada nos interesses nacionais, contaminada por agendas internas de curto prazo, há uma deriva moral que se exprime no desejo de castigar os incumpridores. Castigo económico e político, impondo soluções com condições de extrema dureza (com os resultados que se vão conhecendo e demasiadas vezes com base numa agenda enviesada ), mas castigo também simbólico, como uma punição pública correctiva do mau comportamento.
As declarações do comissário europeu da energia, talvez por coincidência um alemão, defendendo a "substituição dos administradores" incompetentes de cada país e o hastear das bandeiras dos incumpridores a meia-haste nas instituições europeias (!) limitam-se, como tantas vezes acontece, a verbalizar o que muitos pensam mas não têm coragem de dizer, ou pelo menos a tornar transparente e inequívoca a "estrutura de sentimentos" que tem comandado o debate político europeu sobre esta crise.
De facto, é cada vez mais tempo para bandeiras a meia-haste: as da União Europeia.
andré salgado
miguel cabrita
paula mascarenhas
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vitor gaspar; schauble; conversa privada