Os tempos difíceis pedem, mais do que nunca, lucidez e estofo.
Quem se dedique a acompanhar com alguma atenção o modus operandi do Fundo Monetário Internacional, sabe que esta organização é, por natureza, particularmente severa no conservadorismo das suas projecções. Sabe, também, que é de seu uso corrente proceder à revisão das mesmas, em alta. Sem sequer pestanejar. O FMI que prevê uma contracção da economia portuguesa (em 1,4) para 2011, é, a título de exemplo, o mesmo FMI que previa um crescimento de 0,4 para este ano, revendo-o posteriormente para 1,1 - apenas mais que o dobro. Não é preciso tentar desmentir o FMI, é só preciso conhecer como respira.
A última excitação veio da leitura apressada do boletim de outono do Banco de Portugal, onde seria dito que "as medidas de carácter permanente desde já bem especificadas não parecem ser suficientes para garantir a prossecução do objectivo assumido para 2011", pondo em causa, alegadamente, a eficácia do pacote de medidas de austeridade apresentadas pelo governo. Perante o evidente disparate, o BdP sentiu-se obrigado a vir dizer o óbvio: a actual projecção incorpora, em particular, medidas de consolidação orçamental anunciadas em meados de Maio do corrente ano, "não tendo sido incluídas as medidas orçamentais anunciadas a 29 de Setembro, dado que ainda não cumprem plenamente os critérios acordados no âmbito dos exercícios de projecção do Eurosistema".
Que um Afonso Azevedo Neves não saiba do que está a falar, não é grave e responde-se bem a si próprio: Oi?
Que seja acompanhado na confusão pelo deputado social-democrata Jorge Costa e pelo seu próprio líder parlamentar, dá-nos a exacta medida da preocupação. Anda tudo a patinar na maionese.
andré salgado
miguel cabrita
paula mascarenhas
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vitor gaspar; schauble; conversa privada