O futuro ex-deputado Agostinho Branquinho foi tratar da sua vidinha para o Brasil, ingressando nos quadros da Ongoing. Não há qualquer virgindade ofendida no direito em trocar a sua vida de serviço público pelo seu futuro privado. A notícia só se torna interessante se recordarmos que há menos de um ano o deputado Branquinho não só não fazia ideia do que era a Ongoing, como, no decurso das audições da comissão parlamentar de ética sobre o exercício da liberdade de expressão em Portugal, confrontou o director do Diário Económico, António Costa, com a acusação de que a publicação, após a sua aquisição pela Ongoing, teria passado a ter uma linha editorial mais favorável ao governo.
Aqui chegados, das duas uma: ou o deputado Branquinho urdiu um sofisticado plano para ir influenciar a orientação da Ongoing a partir de dentro, ou, o que já adivinhávamos, a retórica que fez o país perder tempo com o extraordinário combate pelo exercício da liberdade de expressão foi isso mesmo, um exercício de retórica usado despudoradamente para fazer chicana política.
Para memória futura: a rapaziada da direita, que salivaria pelos ouvidos se o autor do salto fosse um malandro socialista, não conseguiu melhor que ensaiar esta quase envergonhada defesa do seu malandro. O deputado Branquinho é, afinal, um exemplo de transparência que todos devemos aplaudir porque renunciou ao seu mandato. Nem que fosse por uma superior ordem de razão geográfica: um pé em Lisboa e outro no Brasil poderia causar uma distensão muscular que não se deseja a ninguém.
andré salgado
miguel cabrita
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vitor gaspar; schauble; conversa privada